Recentemente, em busca de respostas a níveis um pouco mais abrangentes e motivações mais humanas para a vida eu redescobri a filosofia.

E, com o único intuito de gerar algumas reflexões eu escrevo este texto. 

Entre os tantos pensamentos que a filosofia promove, os vários conceitos e debates sobre o cotidiano, peguei-me refletindo um pouco sobre a relação entre ética e trabalho.

Quando o tema é ética o que não faltam são intelectuais e grandes pensadores com conceitos acerca da mesma.

Kant gostava de expor a chamada “ética formalista”, segundo a mesma leis ditavam o que deveríamos ou não fazer e, se seguíssemos estritamente a lei então seríamos éticos. Hegel, por sua vez, transmitiu maior maleabilidade ao conceito do anterior, ao adicionar uma variável que teria a ver com o contexto. Ou seja, para julgar a ética era necessário analisar não apenas as leis mas também contextos.

Além deles diversos outros filósofos clássicos citaram o tema, passando por famosos como Aristóteles e Epicuro e até um dos grandes expoentes e, por que não, exemplos de sua própria ética: Sócrates. Para esse último quem define quais são as reais normas que devemos seguir somos nós mesmos a partir daqueles julgamentos que estão em nossa essência. Nós sabemos o que é certo e errado e, cabe a nós ser éticos a partir disso. Sócrates foi memorável nesse sentido pois ele foi acusado de morte, por corromper a juventude, e tinha tanta crença em seus ensinamentos que, podendo fugir, não o fez. Pelo contrário, ele mesmo tomou o veneno (cicuta) e assim morreu. Dizia que se ele fugisse de nada valeriam seus ensinamentos.

Mas, conceitos a parte, o que tudo isso tem a ver com nosso ambiente de trabalho? Para exemplificar, citarei um caso fictício. 

Independente de conotações políticas, a legalização de armas é tema amplamente difundido no Brasil. Eu sou contra. Ao mesmo tempo presto serviços enquanto designer editorial, diagramo diversos livros e ocasionalmente faço capas. A grande questão é: se me pedissem para fazer um livro falando positivamente sobre armas, eu faria? Nesse momento eu enfrentaria um dilema. 

Vamos supor que, em uma hipótese, segundo a lei fosse permitido produzir qualquer material que faça apologia às armas. Ao julgar essa hipótese chegamos a um dilema ético, a partir do conceito de dois pensadores: (1) julgando a ética formalista de Kant eu não deixaria de ser ética ao aceitar fazer o material, mas, (2) segundo o conceito de Sócrates, com certeza eu negligenciaria minha ética, pois, como citado anteriormente, sou contra a legalização de armas. 

Esse é só um pequeno exemplo de dilemas que podemos enfrentar todos os dias. A discussão pode tomar rumos conturbados quando, por exemplo, um motorista de ônibus deixa um morador de rua entrar sem pagar a passagem. Para Kant, isso seria não ético. Mas, provavelmente, o que motivou o motorista foi de âmbito mais humano e menos “racional”, nesse momento, ele estava sendo ético de acordo com conceitos voltados à filosofia clássica.

Não importa a profissão, sempre haverá algum dilema ético, um impasse. Mas a grande questão, com tudo isso, é que a gente possa pensar, refletir se estamos seguindo nossa ética, respeitando os nossos limites. Afinal, graças à subjetividade do tema, nós acabamos elegendo o nosso próprio conceito de ética, a partir de nossos valores e vivências. Mas é importante trazermos esta temática, mesmo que tão subjetiva, para o ambiente de trabalho. Para que, assim, possamos realizar nossos trabalhos de forma mais pensada. 

Provavelmente, no caso fictício que ilustra acerca de fazer ou não um livro sobre apologia às armas, não faria mal nenhum alguma outra pessoa, favorável à temática, fazer a mesma arte e algo que geraria grandes transtornos para mim seria resolvido de forma fácil, prática e sem trazer grandes dilemas para outrem. Talvez outros casos não sejam tão simples.

O que concluímos com essa análise é que, através de um bom alinhamento entre empresas e pessoas com certeza é possível chegar a coeficientes comuns. Esse é, infelizmente, um caminho que poucas empresas enxergam, porém, uma forma excelente de reter funcionários confiáveis, motivados e, principalmente, alinhados com os valores da empresa.